Serão
tratadas aqui de forma resumida teorias fundamentais para o processo de
construção e análise do documentário “A Dor Fica”; tal como a teoria da
comunicação, abordando também conceitos das linguagens cinematográficas e do
documentário, além de conceitos sobre o tema abordado no trabalho.
O
livro Filmar o Real serve como base
teórica para entender o cenário documental no Brasil, mas em especial vem
nortear a produção deste produto fílmico. O recurso da voz do narrador vem a
ser substituídos pela narrativa dos próprios personagens, seus pontos de
vistas, seus anseios e seus traumas. O sujeito/personagem narra sua própria
história, onde a partir de então nota-se uma “predisposição a dar a voz aos
sujeitos da experiência” (p. 27).
Essa
forma de ação torna o documentário mais intimista. A narrativa apresentada
pelas personagens, junto à mínima interferência da câmera, aproxima o
espectador do fato. A carga de realidade contida nas falas dos narradores
personagens vem ao encontro do espectador, transportando para dentro da
situação inserindo na história como um ouvinte dos relatos apresentados.
A
imagem é a representação do real ou imaginário, pode aproximar ou distanciar em
diferentes níveis da realidade. A união entre imagem e som, com ou sem
movimento ressalta a importância do audiovisual em retratar o real. Podemos
dizer que é através da imagem que levamos ao espectador a sensação de estar
diante de uma realidade (aparente). Sobre a realidade fílmica, Marcel Martin
afirma em seu livro “A Linguagem Cinematográfica” que “uma realidade estética
tem valor afetivo”. (MARTIN, 2003)
Rabiger
(2011) explica que o documentário é todo filme que tem fatos e pessoas, que
busca principalmente retratar valores humanos; fazer com que pessoas tomem
consciência de um fato ou realizar uma critica social. O autor caracteriza o
gênero com verbos de ação:
Filmes
documentários investigam, analisam, alertam, evidenciam, exploram, observam,
anunciam, informam, comunicam, educam, promovem, postulam, defendem, celebram,
experimentam, esclarecem, transmitem, satirizam, chocam, protestam, lembram,
revisam, profetizam, registram, concluem, conservam, liberam, revolucionam...
(RABIGER, 2011, p. 14).
A
entrevista com as famílias das vítimas dos acidentes em rodovias foi
privilegiada porque, neste produto, acreditamos e utilizamos a máxima de LINS e
MESQUITA (2011) que afirma que “o
sujeito da experiência é o sujeito do discurso”( 2011: 27). Também foi
intencional associar a narrativa do documentário baseada na entrevista dos familiares,
para que, a partir da memória destas pessoas, pudéssemos ter uma idéia da dor
da perda, dos esquecimentos e das lembranças.
A
utilização da entrevista no documentário, conforme afirmam as autoras citadas
acima, aparece como técnica recorrente nos últimos registros documentais brasileiros.
É, segundo as autoras, uma estratégia recorrente, que está disseminada em
muitos filmes.
Apesar de
amplamente utilizada como recurso, salientamos que não foi nosso intuito expor
ou “sacralizar” os “sujeitos do discurso”, mas tão somente utilizar uma técnica
que baixa custos para a produção do audiovisual e torna esta produção possível
na medida em que as pessoas se sentem confiantes para falar, contar suas dores,
perdas em que para isso se precise de uma locação produzida ou um treinamento
de atores. Partimos assim, da premissa de LINS e MESQUITA quando afirmaram que
“o sistema de entrevistas (no documentário) simplifica a produção e baixa seus
custos”(2011: 31).
BIBLIOGRAFIA
BERMAN, M. Tudo que é sólido desmancha no ar. São Paulo. Cia das Letras,
2008.
CESAR. G. Crendices. Suas origens e classificação. Rio de Janeiro: APEX,
1975.
DORNELLES, Beatriz; GERBASE, Carlos. Papel e película queimam depressa: como
o cinema e o jornalismo impresso tentam escapar da fogueira midiática do novo
século. Porto Alegre : EDIPUCRS, 2011
LE GOFF,
J. História e memória. Campinas:
Editora Unicamp, 1990.
LINS, Consuelo; MESQUITA, Cláudia. Filmar o real: sobre o documentário
brasileiro contemporâneo. Jorge Zahar Editor, 2011.
MARTIN, M. A linguagem
cinematográfica. São Paulo: Brasiliense, 2003.
PUCCINI, Sérgio. Roteiro de documentário: Da pré-produção à pós-produção. Campinas,
SP. Papirus, 2009.
RABIGER, Michael.
Direção de Documentário. 5ª edição. Rio de Janeiro: Editora Elsevier, 2011.
SOUZA, L.
M. O diabo e a terra de Santa Cruz.
São Paulo: Companhia das Letras, 2000
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